Um bebê se rende ao sono
Do outro lado do oceano
São quase onze aqui
E lá, quantas horas?
O bebê não faz a mínima
Apenas se entrega
Um barulho inconfundível de placas de metal caindo
Ônibus acelerando, solda e marteladas
A cidade pede licença
E coloca o bloco no caminho
Para minha dor passar
Pena, é só concreto mesmo...
O silêncio da cidade tem algumas
Dezenas de decibéis
Seu silêncio tem algumas
Centenas de pensamentos
O bebê está lá do outro lado
Dormindo - o anti-poético babar-se.
Logo alguém virá me cutucar e
Vai me arrancar deste mundinho sossegado
Todo mundo tem um lado bebê que dorme
Enquanto o mundo funciona e joga
Cimento e argamassa em nossos olhos
Vociferando, jorre um insulto
O que faz os grandes babarem-se é
A incapacidade de entrega
A qualquer coisa,
A qualquer hora,
A qualquer
Sentido genuíno de renúncia
Deixemos o bebê descansar
Nós é que estamos
Do outro lado do oceano
Entregue seus problemas na caixa de papelão
Em frente à farmácia da esquina e renda-se
A quem entregará suas armas: à poesia ou à vida?
2 comentários:
Incapacidade de entregar-se ao sentido genuíno da renúncia me confunde, como Hegel, rs. Mas deve ser melhor não conseguir.
Flávia.
Entregar as armas à vida? Renunciar a tudo? apatia?
Ou entrega como philia?
E o bebê cabe nos dois sentidos!
Intrigante...
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