25.5.11

Entrega

Um bebê se rende ao sono
Do outro lado do oceano
São quase onze aqui
E lá, quantas horas?
O bebê não faz a mínima

Apenas se entrega

Um barulho inconfundível de placas de metal caindo
Ônibus acelerando, solda e marteladas
A cidade pede licença
E coloca o bloco no caminho
Para minha dor passar

Pena, é só concreto mesmo...

O silêncio da cidade tem algumas
Dezenas de decibéis
Seu silêncio tem algumas
Centenas de pensamentos
O bebê está lá do outro lado

Dormindo - o anti-poético babar-se.

Logo alguém virá me cutucar e
Vai me arrancar deste mundinho sossegado
Todo mundo tem um lado bebê que dorme
Enquanto o mundo funciona e joga
Cimento e argamassa em nossos olhos

Vociferando, jorre um insulto

O que faz os grandes babarem-se é
A incapacidade de entrega
A qualquer coisa,
A qualquer hora,
A qualquer

Sentido genuíno de renúncia

Deixemos o bebê descansar
Nós é que estamos
Do outro lado do oceano
Entregue seus problemas na caixa de papelão
Em frente à farmácia da esquina e renda-se

A quem entregará suas armas: à poesia ou à vida?

2 comentários:

Anônimo disse...

Incapacidade de entregar-se ao sentido genuíno da renúncia me confunde, como Hegel, rs. Mas deve ser melhor não conseguir.
Flávia.

Anônimo disse...

Entregar as armas à vida? Renunciar a tudo? apatia?
Ou entrega como philia?
E o bebê cabe nos dois sentidos!

Intrigante...