29.10.11

Bem-te-vi

Tomar a caneta e escrever
Eis o caminho de pedra
Continuar, enfrentar, escalar
Montanhas de frases
Vicissitudes, maneirismos, o óbvio
Palavra-dominó, palavra-dinamite

De que modo derrubam?


Na esquina da certeza
Deixar as botas
Daqui em diante não haverá mais
Daqui em diante
Quando os pés borbulharem
É hora de fazer as malas

Prosseguir


Agarrar um presságio e
Desancorar-se
Ferir, fluir, fruir
Desapegar-se
Para quem não paga a conta
Esquecer ou lembrar

Tem o mesmo preço


Remendar até ficar bom
Reajustar, repaginar
Retificar, realinhar, retomar
Verbos que se duplicam
Não dissipam o temor reinaugurado
(A não ser que existam outras)

Viver é uma vez só


Um naco de pão
Por um naco de pão
Se for tão-somente por um
Naco de pão
Ainda assim vale
Tomar a caneta e engolir a tinta
Para fazer descer um naco de pão
Escrever é doidice?

Experimente a rotina

Amigo de infãncia
Bom agouro, bem-te-vi
Velho tic-tac na parede
Em seu impossível desligar
Marmanjo feito fazendo criancices
Caretas, berros, impropérios, diálogos
Questionam, alavancam, expandem
Nas ruas, nas fileiras, nos palcos

Creme da sutileza é enternecimento

Procuro uma palavra que não se apresenta
Almejo uma expressão encoberta
Pode o poema carregar a beleza
Que se nega a denunciar?
Silêncio para ouvir, 
Ler de pálpebras cerradas
Nas entrelinhas do estupendo, amoitada

A diáfana mágica do corriqueiro


(Para Maurício De Barros)

2 comentários:

Anônimo disse...

Mais um texto maravilhoso!

Parabéns!

Anônimo disse...

Nossa, texto Lindo!!! Muito obrigado!!!
Muito bom mesmo, emocionou.
A gente se encontra e parece que o tempo não passou, é bom. Aliás acho que para você não passou mesmo. Puta que pariu, tá a mesma cara de sempre rsssss.

Adorei.
Valeu, saudades

Mauricio de Barros (Birola)