26.7.11

Matinal

E se, por decreto
Aposta, convenção
Promessa ou o
Que o valha
As manhãs
Fossem gastas a se comer
Poesia

O pão seria folha
A manteiga, néctar
Leite, deleite
E o café seria café mesmo
(que, acima de tudo, é preciso viver)

Deixaríamos o jornal com as
Notícias frescas, quentes, ferventes
E ficaríamos com a pureza
Alternativa do noticiário dos
Sonhos, vindos da fornada
Louca da tipografia
Do ontem

E escalaríamos meias-verdades
Em busca da essência última
Gravatas trocadas por petecas
Esfregaríamos algodão doce
Nos mau-humorados
Isto se a poesia se comesse pela manhã

Viveríamos submersos na areia
Catando ondas, pulando siris
Rolaríamos na vitrola
Qual disco arranhado
E que diferença faz?
Poesia não é mesmo para incomodar?

Seríamos patrões de nós mesmos
E, pela manhã, nos demitiríamos
Para contratar um transeunte
Que não entenda nada disso
Para fazer o mesmo que não faríamos
Poesia é coçar-se
Com as unhas dentro dos nervos

E acreditar que não faríamos
Mais bobagens se ficássemos
Pela manhã, lendo poesia
Ingerindo non-sense
Desligar tudo que brilha
Deixar as pálpebras virarem as costas
Para o mundo que se acha tão sério...

Poesia não é refresco, não é bálsamo
É outra ferida
Que só se abre
Quando se está curado...

Nenhum comentário: