29.3.11

Poema Comestível

Dizem que o poema tem que ser sentido
Mas este eu quis fazer diferente
E inventei cada uma das palavras
Como se fosse mentira pura
Requeijão com goiabada
Falaram até da verdade que se oculta
Em cada linha, por mais que o autor tente
Em vão, ou se fingindo de besta,
Negar, esconder, guardar no forno
Torta de banana requentada
Eu, entre atônito e incrédulo,
Vou assim duvidando de tudo,
Mas não quero descobrir nada,
Nem revelar, só escrever
Geléia de morango, marmelada
E parece escandaloso que 
Ainda tenha gente que pense 
Que tudo que se cria é
Nada mais que autobiografia
Café com leite, pamonha assada
Começo até a achar engraçado
Que ao fim de cada pequeno trecho
Sempre me venha à cabeça
Alguma guloseima desaforada
Pé-de-moleque, paçoca, cocada
E a poesia se nega a acontecer
Pois percebe que o que eu quero mesmo
Não é escrever absolutamente nada
É, tão-somente, matar esta fome danada
E coragem pra enfrentar a feijoada!

Um comentário:

Anônimo disse...

sabemos que poesia é fome / sede do que não sacia.