22.7.10

Quando eu me enojar


Quando eu me enojar do nojo,
Deixe-me nausear 
e do meu asco, fazer prazer
caso reste fonte viva

Em qualquer poesia.

Quando eu me cansar da ternura,
Permitirei que sinta meu escárnio,
E faça com que a leveza recidiva:
Precisa

Em qualquer poesia

Quando enfadonho o sabor
De sutileza, rima, beleza ou sede,
Deixe ser 
Do jeito que for

Em qualquer e toda rede

Quando parecer belo ser
E enjoativo nó e ponto
Deixe ser, ter 
E reter

Em qualquer reencontro

E sinta sempre:
riqueza e fome, nojo e ternura,
escárnio, gargalhadas e alma
Nessa ladeira

Sem descanso e escura 
Deixe, assim, desenfreada
A poesia sem rimas
E não tenha náuseas nem
Quando eu me enojar do nojo:

E deixe correr à baila...
Pois só neste instante ínfimo
Intimamente, confesso:
Não ser preciso - fé, beleza ou azia,
Nada disso:

Em qualquer poesia.

3 comentários:

Fernanda Robert disse...

Bela!

Anônimo disse...

Belo!
Impublicavelmente...

sorriso disse...

A poesia novamente,
quase esquecida nas entranhas cibernéticas desta nossa realidade tão exata...
Obrigada por mais este bálsamo!
Bj
M. Cecilia