(Dois pequenos textos lidos no evento Rock e Filosofia - Beatles, Hendrix e a Psicodelia, realizado em parceria com o músico, desenhista e poeta Fernando Chuí, no Espaço Cultural CPFL)
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Jimmy Hendrix era um cigano, era um descendente dos cherokees, era um paraquedista, era um bruxo que aprendeu tocar guitarra dedilhando uma vassoura e aprendeu a voar com sua Fender encantada.
Quando Hendrix caía do céu, ouvia o som do vento nas cordas do pára-quedas e pensava em músicas e distorções. Ele raspava suas mãos nas cordas do pára-quedas como se estivesse tocando um som de outro mundo.
Mas então quebrou o tornozelo em uma queda. E por isso não foi à guerra do Vietnã. É, o imprevisto, meu chapa, tem desses caprichos... Mas a sua música estava lá, e o soldados a escutavam, entorpecidos de morfina para combater a dor das mutilações e da estupefação ante o absurdo.
Ouviam “Machine Gun” e o hino americano distorcido em Woodstock, e unido a sons de metralhadoras, helicópteros e bombas que Jimmy revolvia de seu instrumento beliscando e raspando as unhas contra as cordas. Hendrix sintetizou o espírito de uma década, ao jorrar uma inquietante e reveladora (re)-versão do hino.
Era um xamã multicolor endoidecido? Talvez... Mas o que as pessoas normais fizeram naqueles tempos, meu amigo, não era nada melhor do que o que fizeram os que eram tachados como loucos. Aliás, era uma época em que tachar começou a se tornar um exercício perigoso...
Hendrix aprendeu a tocar guitarra em 5 ou 6 anos. E de onde é que Jimmy ouvia aquelas coisas que depois tentava tocar? Sua sonoridade vinha da intensidade e do imponderável: da sua Fender erotizada e dos ampli Marshall que eram forçados a se esguelarem para muito mais além de sua própria natureza e potência.
Explorava os erros da acústica, as distorções, os pedais wah-wah, as alavancas e as escalas pentatônicas em sua Strato em chamas, as microfonias, o submundo (ou o ultra-mundo?) da mente em suas experiências psicodélicas regadas a álcool, barbitúricos, LSD.
Hendrix viveu além do limite, e sua música transbordou para além do limite tão breve de sua vida. Naquela noite efêmera, Little Wing, seu anjo da guarda pessoal não pode salvá-lo, e os castelos de areia desmancharam-se no oceano, por fim.
A morte de Jimmy Hendrix, como a queima de sua guitarra, foi um sacrifício pela boa música e por uma geração carente de heróis. Heróis que em seu íntimo acreditavam que: “a música não mente. Se tem algo a ser mudado neste mundo, isso só vai ser possível através da música”.
“As vezes em que queimei minha guitarra, dizia Jimmy, foi como um sacrifício. Você sacrifica as coisas que você ama. Eu amo a minha guitarra.” De sua guitarra, era evidente, não pulsava fogo, resplandecia, isto sim, luz.
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Desligue sua mente, entre
na nova era.
Flua,
Agarre-se num morango
dos campos eternos.
Ande por uma rua
Chamada Penny Lane,
Gravada
Em minhas retinas
E em meus ouvidos
É fácil viver com os olhos fechados
Imerso
Num submarino amarelo
Sou o tolo da montanha
Sou a morsa
Sou o sargento pimenta
Tenho só 64 anos,
Sou velho, sou moço, sou eterno
E o canto dos monges me embala
Escondidos sob um manto
denso de ilusões,
O que mesmo esquecemos para trás?
É, do jeito que as coisas vão, meu velho,
eles vão acabar me crucificando...
Fica então meu sussurro,
neste disco riscado,
neste disco riscado,
neste disco riscado,
antes que você não precise mais de mim:
O sonho acabou?
Basta que tenha existido.
3 comentários:
Olá meu caro Hamer:
Quando Hendrix morreu usei uma tarja preta no braço, por algum tempo. Não sabia bem a dimensão daquilo, mas o reverenciei e, que bom que o fiz. Este "cara" faz parte de minha trilha sonora e de uma biografia que tenho tentado escrever com muito zelo, um tanto de prazer e outro de sofrimento. Como diz um professor amigo, "me considero hoje apenas um jovem há mais tempo".
Obrigado por seus escritos...
Pessanha
Basta que tenha existido....Beatles....o Big Bang da musica.
Obrigado ,e curti muito sobre James Marshall
Abs,DV
Hi Doctor Robert,
assisti a um pedaço do cpfl e curti demais, porque hdrx + btls = tnt, né não?
parabéns...
L.
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